Olha o Carnaval aí, gente!

Carnaval – Rio de Janeiro, 1989: Cristo encoberto em carro alegórico desfila na ala dos mendigos na escola de samba Beija-Flor após ser proibido, no sambódromo da Marques de Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ). (Rio de Janeiro (RJ), 07.02.1989. Foto de Luiz C. Caversan/Folhapress)
A imagem é famosa: um Cristo Redentor totalmente coberto por um plástico preto, cercado de mendigos e uma faixa com os dizeres: “mesmo proibido, olhai por nós”. A Beija-Flor de Joãosinho Trinta pretendia mostrar um Cristo mendigo na Maquês de Sapucaí, mas a Arquidiocese do Rio de Janeiro, ao tomar conhecimento da obra, foi à Justiça para impedir a apresentação da escultura – e conseguiu. O ano era 1989, e a relação entre a Igreja e o Carnaval no Rio de Janeiro mudou muito desde então.
Os tempos agora são de tolerância e diálogo, para evitar que cenas como aquelas se repitam. O exemplo mais recente é a Estácio de Sá. A campeã da Série A (acesso) em 2015 volta ao Grupo Especial com o enredo sobre São Jorge. Precavido, o carnavalesco Chico Spinosa tomou a iniciativa, junto do presidente Leziário Nascimento, de levar a ideia ao cardeal arcebispo dom Orani Tempesta.
“Conversamos com dom Orani, explicamos o enredo, mostramos a sinopse e o Chico deu uma aula de São Jorge”, conta Nascimento, cuja escola recebeu a bênção do padre Wagner Toledo.
Desde então, outros encontros aconteceram. A derradeira visita de membros da Cúria ao barracão aconteceu na última sexta-feira, pouco mais de uma semana antes do desfile. E segundo as partes envolvidas, está tudo aprovado, “de acordo com as orientações da Arquidiocese”, disse a coordenadora jurídica da entidade, Claudine Dutra.
As orientações, no caso, foram duas principais: as imagens do santo deveriam estar estilizadas e nada de nudez. Sincretizações não foram vetadas. Portanto, nenhum problema com Ogum.
Além disso, o local onde São Jorge apareceria também foi motivo de preocupação, cessada após a notícia de que a imagem virá num carro, cercada pela Velha Guarda estaciana. “Acho que (a imagem) está bem protegida”, afirmou Claudine.
O samba, que fala em “manto carregado de axé”, também recebeu atenção e passou pelo crivo da arquidiocese. Continue reading