Preconceito está associado a ignorância, diz Kobra sobre grafiteiros torturados no Rio
Paula Bianchi
Nesta semana, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia do Ministério Público contra dois homens acusados de torturarem três grafiteiros no centro da capital fluminense no começo do ano. Os grafiteiros foram espancados com barras de ferro e cobertos de tinta por seguranças da Saara (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), um centro de comércio popular no centro da cidade.
Para o grafiteiro Eduardo Kobra, 40, que chegou a ser pintado e preso quando fazia trabalhos no passado, “nada justifica violência”. Kobra, que tem trabalhos expostos pelas ruas de mais de 15 países, acredita que o preconceito contra o grafite está muito relacionado à ignorância e que é preciso mudar essa cultura no Brasil. “Há tantos artistas que de forma voluntária saem das suas casas com as suas tintas e vão doar os seus trabalhos para a cidade”, diz. “Precisamos perceber a oportunidade que nós temos como vanguarda na street art e incentivar.”
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o artista:
UOL – Há pouco tempo, no Rio de Janeiro, três grafiteiros foram agredidos e torturados por seguranças da Saara, um centro de compras popular no centro da cidade. Como você vê esses casos de violência? O grafite ainda é visto como algo marginal no Brasil?
Eduardo Kobra – Sou contra qualquer tipo de agressão. Nada justifica violência. Ainda mais por parte de pessoas que estão ali com a função de proteger e cuidar. Quando se trata de artistas, caímos em outro detalhe que é a falta de conhecimento. Esse preconceito está muito associado à ignorância. Há tantos artistas que de forma voluntária saem das suas casas com as suas tintas e vão doar os seus trabalhos para a cidade, muitas vezes com muita dificuldade, tanto para comprar as tintas quanto para executar o trabalho… No passado, as pessoas passavam e me chamavam de vagabundo. Falavam, “vai procurar um trabalho, procurar o que fazer”. Até hoje, ainda observamos esse tipo de atitude.
Aqui em São Paulo conseguimos uma melhora nesse quadro. Áreas importantes da cidade, como a avenida 23 de Maio, foram cedidas aos artistas, mas a maioria dos que estão pintando nas ruas já sofreram com violência. Eu já passei por uma situação similar a essa, fui pintado e cheguei a ser detido três vezes por pichação. É constrangedor. O melhor caminho nessas horas é aplicar a lei. E tenho certeza de que a lei não permite nenhum tipo de violência.