” Estupra, mas não mata…” P.S.M.

” Estupra, mas não mata…” Tal frase dita por infelicidade por um famoso político paulista passou pela minha cabeça quando me peguei refletindo sobre o recente estupro ocorrido no Rio de Janeiro e divulgado nacional e internacionalmente.
Não quero me ater aos nomes dos envolvidos, pois isso não tem a menor importância para a finalidade deste pequeno artigo. Talvez o mais importante aqui seja discutir esta cultura que tem sido discutida, ora defendida , ora atacada. A cultura da qual falo é a “cultura do estupro”. Sim, tem gente que defende com unhas e dentes e mil argumentos favoráveis. Tem gente que culpa a menina pelo estupro, dizendo que ela sabia que poderia ser vítima, que ela procurou e encontrou, que ela tinha consciência do que estava ocorrendo, que ela foi culpada do crime, que não era bobinha, que era safada, que não se arrepende do que fez, que talvez até procure novamente ser vítima e outras coisas do mesmo nível.
Certamente ela sabia que corria riscos disso acontecer e de algo até pior. Faltaram uma mãe e um pai para orientá-la. Faltou juízo a ela para perceber que mais dia ou menos dia isso poderia acontecer devido à periculosidade de algumas pessoas. Faltou malícia a ela para perceber o alto risco que corria e que qualquer pessoa corre ao frequentar locais mal frequentados. Poderia ser um barraco na favela, uma casa na periferia, uma mansão em bairros nobres de qualquer cidade. Qualquer um poderia tê-la estuprado se o quisesse. Ela era frágil e indefesa. Ela foi vítima como milhares são por esse mundo afora. Não nos iludamos, milhares ocorrem e nem sequer ficamos sabendo. E continuaram acontecendo…E muito provavelmente não serão noticiados nas redes televisivas.
O que mais espanta neste caso é o fato que muitas pessoas pensam, falam e agem em favor dos estupradores (mesmo que não tenham intenção disso). E outros defendem com conhecimento de causa e apoiam. Basta verificar os inúmeros comentários nos diversos meios onde a notícia tem sido constantemente veiculada ou nas conversas de ruas, de bares, de esquinas e outros espaços. É espantoso como se defende a “cultura do estupro”, como se cultiva a ideia de que os estupradores estão certos e as vítimas, erradas. Ela não pediu para ser violentada, não permitiu ser penetrada por diversos homens. Ela não declarou que queria fazer sexo com diversos homens.
Não se pode culpar a vítima por ela ter-se exposto ao perigo neste caso específico. Independente de ela ter ido ao local, ter-se colocado em risco, ter consumido algo que a dopasse voluntária ou não voluntariamente. Não se podem inverter os valores. Ela foi vítima e os estupradores, os agressores. Em hipótese alguma deve-se esquecer que eles fizeram sexo com ela e não ela fez sexo com eles. É uma questão de atividade e passividade.
Não se trata de feminismo contra machismo simplesmente. Embora isso seja muito relevante, pois a ideologia machista permite ao homem agir contra a mulher da forma como desejar, sem respeitar-lhe as vontades. Trata-se de um desrespeito grave de gente para gente. Causa vergonha quando se lê ou se escuta pessoas culpando a garota, apontando as circunstâncias como justificativas para o fato. Ninguém merece ser estuprado! Ninguém!
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