Juó Bananère era o pseudônimo usado pelo escritor brasileiro Alexandre Marcondes Machado para criar obras literárias num patois falado pela numerosíssima colônia italiana de São Paulo na primeira metade do século XX.
Apesar de não ter ascendentes italianos, o escritor Alexandre Marcondes Machado apaixonou-se pela cultura surgida nos bairros centrais da capital paulista após a grande onda imigratória que fez com que a população da cidade passasse de 130 mil habitantes em 1895 a 580 mil em 1920, dos quais mais da metade eram imigrantes estrangeiros e outro quarto eram seus filhos já nascidos no Brasil.
Sua principal obra foi o livro La Divina Increnca, editado pela primeira vez em 1915 e reeditado em 1994. Todos seus textos, desde artigos para periódicos a panfletos, eram marcados por uma linguagem satírica e autolaudatória. Juó Bananère intitulava-se Gandidato à Gademia Baolista di Letteras (Candidato à Academia Paulista de Letras).
Notável em sua época pelo estilo humorístico-satírico, recriando textos literários consagrados, utilizando-se de uma mistura de italiano e português recorrente em bairros paulistanos de imigrantes. Aclamado pela crítica, tornou-se popular no Brasil pela irreverência de suas paródias a sonetos de Camões e de Olavo Bilac, a poesias de Casimiro de Abreu e de Guerra Junqueiro, como pelas sátiras políticas contra o marechal Hermes da Fonseca e outros nomes da velha República.
Fez ainda paródias de La Fontaine e Machado de Assis, mantendo ainda a mistura dos idiomas italiano e português, típica dos moradores italianos dos bairros do Brás, da Mooca, do Bixiga, do Belenzinho, bairros operários da cidade de São Paulo, onde havia grande concentração de imigrantes. Considerado por muitos como um pré-modernista, principalmente pelo fato de ter começado a tratar de forma irreverente as produções do romantismo e do parnasianismo, publicou dois livros La Divina Increnca, paródia da Divina Comédia, e Galabaro, corruptela de Calabar.
Paródia de Juó Bananère ao poema “Canção do exílio” de Gonçalves Dias
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
As aves che stó aqui,
Tambê tuttos sabi gorgeá.
A abobora celestia tambê,
Che tê lá na mia terra,
Tê moltos millió di strella
Che non tê na Ingraterra.
Os rios lá sô maise grandi
Dus rios di tuttas naçó;
I os matto si perde di vista,
Nu meio da imensidó.
Na migna terra tê parmeras
Dove ganta a galigna dangola;
Na migna terra tê o Vap’relli,
Chi só anda di gartolla.
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São, São Paulo meu amor/São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes/De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente/Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio/Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes/Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros/Caseados à prestação
Porém com todo defeito/Te carrego no meu peito
São, São Paulo/Meu amor/São, São Paulo
(Tom Zé)