Por Salvador Nogueira
Descoberta por John Seach, na Austrália, três dias atrás, ela apareceu com magnitude ao redor de 5, portanto no limite da observação a olho nu. (Se você está num lugar com poluição luminosa, faça uso de binóculos para procurá-la.)
Ela está próxima à Beta Centauro, que por sua vez forma uma linha reta com o braço menor do famosíssimo Cruzeiro do Sul. Não está difícil de achar. “Um pouco à esquerda e acima de Beta Centauro está a Nova Centauri 2013″, diz Gabriel Hickel, astrônomo da Universidade Federal de Itajubá (MG). “Ao que parece, ela está aumentando de brilho ainda e pode chegar a magnitude +4,0.”
Beta Centauro também é conhecida por Agena. A Nova Centauri 2013 está na região marcada pelo quadradinho — e não repare na gloriosa visão da Via Láctea na imagem; no céu é bem menos glamoroso. (Enquanto estiver procurando, aproveite e faça uma visitinha a Alfa Centauro — também chamada Rigel Kentaurus. Trata-se do sistema estelar mais próximo de nós, a 4,3 anos-luz de distância, composto por três estrelas. Em torno de uma delas, Alfa Centauro B, cientistas encontraram um planeta do tamanho da Terra, mas muito quente para abrigar vida.)
O QUE É UMA NOVA?
Bem, a essa altura, já pode ter te ocorrido esta pergunta. O nome parece auto-explicativo, mas na verdade é auto-enganoso. A terminologia vem de uma época em que tudo que os astrônomos sabiam sobre o céu vinha de observações a olho nu. Dessa perspectiva, se uma estrela que antes não se via aparece no céu, faz sentido chamá-la de “nova”.
Foi assim com Tycho Brahe, em 1572, o rei da astronomia a olho nu. Ele estudou uma nova naquele ano e constatou que ela estava mais longe da Terra que a Lua, contrariando a doutrina aristotélica então vigente, segundo a qual os céus eram imutáveis. Mais tarde o sucessor de Tycho, Johannes Kepler, estudaria outra nova, que apareceu nos céus em 1604. Esta era tão brilhante que se manteve visível até mesmo à luz do dia, durante três semanas!
Com o avanço da astronomia, no século 20 ficou definitivamente constatado que as novas são na verdade estrelas que já até morreram de velhas e são momentaneamente trazidas de volta à vida por roubar um pouco de massa de uma vizinha próxima. Ou seja, uma espécie de Frankensteins cósmicos.
Para entendê-las, basta pensar no que será do Sol no futuro. Hoje, ele é uma anã amarela de meia idade, consumindo hidrogênio a todo vapor. Em mais uns bilhões de anos, o combustível vai se esgotar e ele vai se tornar uma gigante vermelha — inchado, mais frio e com uma atmosfera mais tênue.
Depois de algum tempo como gigante vermelha, toda e qualquer reação nuclear será impossível. A atmosfera inchada será soprada para o espaço e o que sobrar, o núcleo, será comprimido violentamente pela gravidade e virará um cadáver estelar conhecido como anã branca.
Pois bem, uma nova acontece em sistemas binários, em que uma das estrelas já virou uma anã branca e a outra é uma estrela normal, dita pelos astrônomos “na sequência principal” (em alguns casos pode até ser um astro já fora da sequência principal, na forma de uma gigante vermelha).
A menor acaba roubando paulatinamente gás da atmosfera inchada da maior. Esse processo acontece por um certo tempo até que o aumento de massa na anã branca gera uma reação explosiva — uma rápida atividade de fusão nuclear que momentaneamente traz a antiga estrela de volta à vida. Seu brilho aumenta agressivamente e ela passa a ser visível, mesmo a grandes distâncias.
É o caso da Nova Centauri 2013, bem mais modesta que as observadas por Tycho e Kepler (hoje reclassificadas como supernovas, eventos bem mais energéticos).
A exemplo da Nova Delphini 2013, observada em agosto, ela deve permanecer no céu por alguns dias, até o brilho se dissipar. Portanto, se você deseja vê-la pessoalmente, não perca tempo.
Procure as estrelas presentes na imagem acima perto do horizonte Sul, entre 2h e o amanhecer (quanto mais tarde, mais para cima no céu elas devem estar, até o Sol chegar, ofuscar seu brilho e acabar com a graça). O Cruzeiro do Sul, facilmente reconhecível, é a melhor referência.
Fonte: Blog Mensageiro Sideral