Biografia de Gabriel García Márquez em HQ esconde o homem atrás do mito
Guilherme Solari
Biografia em quadrinhos muito aguardada após a morte de Gabriel García Márquez em abril, “Gabo: Memórias de uma Vida Mágica” (Veneta) chega mostrando de forma idealizada a história do artista genial que vai da miséria ao sucesso e reconhecimento mundial.
E Gabriel García Márquez foi precisamente isso, de morador de rua a imortal literário e com um legado que ajudou a definir tanto a imagem da América Latina quanto os rumos da literatura do século 20. A HQ, no entanto se esquiva de abordar alguns dos aspectos mais polêmicos da trajetória de Gabo. Um deles é o rompimento com Mario Vargas Llosa. O fato culminou com um soco de Vargas Llosa em Gabo na cidade do México em 1976, inciando um dos maiores “feudos” da história recente da literatura. A amizade com o ditador Fidel Castro também – fato que fez Gabo ser alvo de constantes críticas de exilados cubanos – também é abordada de forma rápida e não-crítica.
O roteiro foi feito pelo colombiano Julián Naranjo, com a vida de Gabo dividida em quatro fases, cada uma à cargo de um artista diferente e que utiliza uma cor predominante. Na primeira, a HQ mostra a infância de Gabo e mostra como as primeiras experiências infantis como ouvir as histórias do avô e tocar em gelo pela primeira vez formaram o embrião do que se tornaria o realismo fantástico. A segunda apresenta a formação no círculo intelectual de Bogotá, o começo da carreira como jornalista e os momentos de miséria, quando chegou a morar nas ruas e num prostíbulo. Em seguida é mostrada a ascensão , as viagens e o casamento. Na última parte, a consagração com o Nobel.
Fora os sinais de um roteiro que defende o biografado – e até o idolatra – “Gabo” faz um bom trabalho de integrar a vida e a obra do escritor colombiano. As diferenças dos traços dos diversos artistas também ajuda a dar uma atmosfera particular a cada era da vida do escritor. “Gabo: Memórias de uma Vida Mágica” é uma boa narrativa da trajetória do ícone, mesmo que esconda um pouco a fragilidade do homem por trás do ícone.