Depoimento: Dá para saber quem olha o seu Facebook?
JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O grande objetivo dos usuários das redes sociais é saber quem visita o Facebook de quem. Recentemente, hackers aproveitaram essa curiosidade mórbida em relação aos xeretadores para aplicar um golpe.
Um aplicativo misterioso prometia revelar a identidade de quem entrava no seu perfil, mas, para isso, você precisava clicar em um link. Depois disso, o aplicativo disparava uma mensagem para todos os seus amigos, convidando-os a clicar no mesmo link. De convite em convite, a única coisa que o programa revelava é que você era ingênuo o suficiente para cair nesse tipo de golpe primário __e egocêntrico o suficiente para ficar todo ouriçado com a chance de saber quem te vigia.
Veja que constrangimento: meus professores, gente que mal posta em redes sociais, que parece não ter tempo para essas bobagens, gente adulta e segura de si caiu no golpe.
Acho difícil que o Facebook algum dia revele explicitamente quem entra na sua página. Dedurar os “stalkers” foi o começo do fim para o Orkut.
A lógica do Facebook é manter você preso àquela página sem graça pela maior quantidade de tempo possível. Tudo que aparece ali, a forma como as informações são organizadas e hierarquizadas visa chamar a sua atenção. Não a de qualquer um: a sua em particular. Se você sempre dá “likes” nas fotos de determinada pessoa, então o Facebook passa a encher sua página de fotos dela. Se nunca interage com outra pessoa, a rede social a esconde dos seus olhos.
O objetivo do site é criar parzinhos, guetos, redutos de identificação plena. É por isso que não existe um botão de “dislike”. Para quê? Para as pessoas discutirem, se excluírem mutuamente? Nada disso. Vamos nos amar loucamente e conferir a página um do outro sete vezes ao dia.
No Facebook nada é relegado ao acaso. Todas as informações são organizadas no intuito de criar os supracitados guetos de amor eterno. Pensando nisso, abra seu próprio perfil (sua linha do tempo) e repare naquela caixinha de amigos logo ao lado das suas fotos, bem no topo da página. Por que o Facebook lhe mostrou esses rostos e não outros? O que essa gente tem em comum?
A hipótese mais racional é a de que aqueles são os amigos com quem mais interajo ou que mais acompanho. Não é verdade: volta e meia meu pai aparece lá. Eu não olho a página dele porque ele não posta coisa alguma. Aparecem também minhas primas, sendo que eu só olho a página delas quando estou com uma insônia do cão. Sempre aparece um menino chato que me pede dicas de jornalismo como se eu fosse a própria editora do “New York Times”. Nunca tive curiosidade de entrar no perfil dele.
Um boato na internet diz que essa caixinha revela justamente o que o tal aplicativo da vergonha não revelava: quem andou vendo a sua página. A assessoria de imprensa do site no Brasil não nega nem confirma a informação, mas, para mim, faz todo sentido.
Quando você atualiza a página, os amigos da caixinha mudam, mas atualize algumas vezes, por alguns dias, e note como não muda muito: são sempre mais ou menos as mesmas 20 pessoas se revezando.
O truque da caixinha de amigos tem uma limitação óbvia: só te mostra –se é que mostra– os “stalkers” que estão adicionados à sua lista de amigos.
Talvez essa seja apenas uma crendice da internet, como aquelas listas de e-mails que vão trazer uma desgraça caso você quebre o ciclo e não repasse para 15 pessoas. Mas, veja pelo lado bom: esse texto –ao contrário do aplicativo da vergonha — não será disparado para todos os seus amigos denunciando você como uma pessoa muito fútil e curiosa assim que terminar de ler.
Fonte: Folha Online