Documentário sobre os 50 anos de luta do Rock Brasileiro
Marcelo Moreira
O rock brasileiro tem medo de seu passado. Só isso pode explicar a falta de registros históricos do gênero no Brasil, especialmente em vídeo. No momento em que termina o 6º In-Edit – Festival Internacional de Documentários Musicais, com uma saraivada de obras de todos os gêneros musicais, uma fita melhor do que outra, percebemos que há muito o que documentar e resgatar no rock nacional.
Quem tenta precisa lutar contra o descrédito, a ignorância e o desprezo de um mercado cultural e publicitário burro e que aposta no lixo cultural e na desqualificação para ganhar dinheiro. Quem ousa e corre atrás do novo geralmente é menosprezado, quando não deliberadamente atrapalhado. Gastão Moreira enfrentou várias dificuldades, mas ainda assim fez o excelente “Botinada”, sobre o movimento punk brasileiro.
Menos ambicioso, até por dispor de menos recursos, o músico e videomaker Marcelo Rossi (não confundir com o padre saltitante e irritante, e nem com o renomado fotógrafo), não pensou muito antes de empunhar a câmera e gravar na raça uma série de depoimentos para um projeto grandioso, que começa a ver a luz do dia.
O documentário “50 Anos do Rock Brasileiro” ouviu 61 pessoas importantes da música brasileira, entre músicos, jornalistas e produtores culturais, contando com o apoio do Proac, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. É claro que é um empreendimento que louva o gênero musical e que presta homenagens a grandes artistas, mas faz questão de evidenciar como é difícil fazer rock neste país.
“Trata-se de uma história de heróis e heroínas, sangue, suor e lágrimas. Pessoas que foram à luta, correndo atrás de seus sonhos”, avisa o trailer apoteótico e ufanista. Também não é para tanto. Essa mania tão brasileira de santificar e glorificar acaba por descaracterizar a obra e o verdadeiro sentido do trabalho enfocado.
Ninguém é herói por tocar guitarra ou por cantar, muito menos por enfrentar os pais e sair de casa para viver de música. Entretanto, promover, estimular e incentivar cultura em um país que não valoriza o esforço e a inteligência é um ato de coragem. Por si só isso já vale uma espiada no sério documentário de Rossi.
Esqueça as questões técnicas e zelo com a produção. Tudo é muito simples e direto. O que vale, mais do que tudo, é a informação. Dividido em quatro partes, o documentário retrata a história do rock nacional de forma cronológica, sem requintes no roteiro: “Anos 50 e 60″, “Anos 70 – Os Anos de Chumbo”, “Anos 80″ e “Anos 90 e 2000″.
“Deu bastante trabalho e foi um sonho realizá-lo, mesmo com todas as dificuldades. Faltava algo deste tipo na música nacional e torci para que ninguém tivesse a mesma ideia”, diz Rossi, produtor e diretor do documentário, que acaba de engatar uma carreira solo como vocalista e baixista depois de anos integrando o trio Exxótica.
Entre os participantes estão Serguei, Oswaldo Vecchione (Made In Brazil), Sergio Hinds (Terço), Guilherme Isnard (Zero), Roger Moreira (Ultraje a Rigor), Clemente (Inocentes), Marcelo Nova (Camisa de Vênus), Walcir Chalas (Woodstock Discos), Edu Ardanuy (Dr. Sin), Paulão Thomaz (Baranga), Gastão Moreira (jornalista, ex-MTV), Luiz Carlini (Tutti Frutti) e muitos outros.
Não espere grandes revelações ou informações inéditas. Didático e reto, o documentário carece de ritmo e de perguntas mais críticas, que pudessem estimular algum debate, ou mesmo alguma análise, mas isso não prejudica o resultado final, que é positivo. Até pela falta de concorrência, a obra de Rossi é desde já uma referência histórica de documental do rock brasileiro.
Fonte: Combate Rock