“Ela”, de Spike Jonze, discute impacto da tecnologia nas relações amorosas
Joaquin Phoenix no papel de um homem que se apaixona por sistema operacional
A história de “Ela”, filme de Spike Jonze que estreia nesta sexta-feira (14), se passa em um futuro próximo, sem carros voadores ou trajes prateados, no qual as pessoas dependem cada vez mais da tecnologia para viver e se relacionar.
Soa familiar – e é: uma história de amor que hoje ainda seria impossível, mas cheia de pistas sobre como poderá ser a etapa seguinte.
“Ela” não identifica nem o ano nem a cidade em que vive seu protagonista, Theodore (Joaquin Phoenix). Solitário após se separar de Catherine (Rooney Mara), seu trabalho é escrever cartas – declarações de amor, votos de boa sorte, felicitações por datas importantes – para outras pessoas, ditando-as a um computador que escreve tudo automaticamente.
No futuro de “Ela”, não há fios ou teclados. Ao comando da voz de Theodore, os aparelhos eletrônicos tocam a música que ele quer ouvir, lhe dão as notícias do dia, leem seus emails e até o conectam a um estranha, no meio da noite, para uma sessão de sexo virtual.
Com a sensação de que “tudo está desorganizado”, Theodore compra um sistema operacional que promete funcionar como uma consciência. O serviço tem voz feminina (a de Scarlett Johansson, sexy e calorosa), se dá o nome de Samantha e faz tudo por Theodore: de organizar sua agenda a ajudá-lo a passar de fase no videogame.
Aos poucos, cliente e serviço não conseguem ficar sem a companhia um do outro. “Você parece real para mim”, diz Theodore a Samantha, e os dois se apaixonam conforme ela começa a sentir e pensar, se aproximando de um ser humano, mas sem corpo.
As dificuldades de uma relação assim não demoram a chegar, mas Jonze toma cuidado para discutir o impacto da tecnologia nas relações sem lições de moral ou clima de nostalgia. Ele deixa claro, porém, a importância dos momentos compartilhados, intercalando as conversas de Theodore e Samantha com flashbacks de momentos simples ao lado de Catherine: um abraço na cama, uma brincadeira no jardim, a sensação de estar junto.
O amor por um computador parece estranho e por vezes cômico, assim como o trabalho de Theodore, que escreve cartas extremamente pessoais para estranhos, num assustador repasse de intimidade. Ao mesmo tempo, o mundo de “Ela” parece muito próximo de nós, um preview do que deve surgir como continuação de redes sociais como o Facebook e aplicativos como Grindr e Tinder – este último dono de um slogan e tanto: “É como a vida real, mas melhor”.
Manter-se próximo ao atual foi a decisão mais acertada de Jonze, que criou um futuro totalmente “clean” e cheio de cor (rosa, vermelho, laranja), um mundo ensolarado e organizado que contrasta com a confusão interna de Theodore. A construção do personagem também foi certeira: ele é peculiar, mas não esquisito ao ponto de parecer anomalia, algo que minaria a identificação do público.
Phoenix, por sua vez, está em grande forma, sensível e afetuoso em um papel difícil e do qual depende todo o filme. Sozinho em cena durante boa parte do tempo, o ator conduz o público pela história com uma grande atuação.
Fontes: Último Segundo e Youtube