Greenpeace : Ato contra a exploração ilegal de madeira no Pará

Greenpeace : Ato contra a exploração ilegal de madeira no Pará

woodgreenAtivistas do Greenpeace ocuparam na manhã desta quinta-feira (15) a madeireira Pampa Exportações Ltda., próximo a Belém (PA), em protesto contra a exploração ilegal e predatória de madeira na Amazônia. A ação marca o lançamento da campanha contra a prática. Em uma das faixas, está escrito em inglês: “Feito no Brasil. Origem: desconhecida”.

O desmatamento na Amazônia diminuiu significativamente nos últimos anos. O Brasil dobrou a produção de alimentos e o país figura entre as 10 maiores economias do mundo. Sinal de que está tudo bem e a floresta está salva… SÓ QUE NÃO.

A exploração predatória e ilegal de madeira está destruindo a floresta aos poucos.
A retirada excessiva de árvores fragiliza a mata e pode significar o seu fim. Pior: o sistema oficial que deveria controlar a produção de madeira na Amazônia tem permitido a circulação de madeira com documentação limpa e origem suja.

 A CRISE SILENCIOSA DA AMAZÔNIA

A Amazônia é a maior floresta intacta do mundo e lar para mais de 24 milhões de pessoas,
incluindo centenas de povos indígenas. A floresta é essencial para a sobrevivência desses
povos, servindo de fonte de alimentos, abrigo e medicamentos, bem como desempenhando
um papel importante em sua vida espiritual.

Ela também serve de habitat para cerca de um quarto de todas as espécies conhecidas da Terra, incluindo a onça-pintada, o boto cor-de-rosa, a preguiça, entre outros. Na verdade,a Amazônia é um dos lugares mais ricos do planeta em relação à diversidade da flora e fauna.Ela abriga aproximadamente 40 mil espécies de plantas; 427 mamíferos; 1.294 aves; 378 répteis; 426 anfíbios e 3 mil espécies de peixes.

A bacia amazônica abrange uma área de aproximadamente 6,5 milhões de km², distribuídos por nove países sul-americanos e compondo 5% da superfície terrestre. Ela abriga o maior sistema fluvial do planeta, cerca de um quinto do volume total de água doce do mundo.
Cerca de 60% da bacia amazônica (4,1 milhões de km²) está dentro das fronteiras do Brasil. Até o momento, foram desmatados cerca de 700 mil km² da floresta amazônica brasileira – uma área equivalente a mais de duas vezes o tamanho da Polônia. Somente nas últimas três décadas,18% da Amazônia brasileira foi perdida.

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A Amazônia e o clima

Além de sua incomparável riqueza natural, a Amazônia desempenha um papel essencial para ajudar a controlar os níveis de carbono em todo o planeta. Assim como outras florestas intactas, retira o carbono da atmosfera para suas árvores e isso ajuda a compensar a emissão de gases de efeito estufa.

Trata-se de uma armazenagem enorme – aproximadamente 100 bilhões de giga-toneladas (Gt) de carbono7 – mais de 10 vezes as emissões anuais de combustíveis fósseis. No entanto, o desmatamento não só reduz a quantidade de carbono que a floresta pode armazenar, como também emite mais carbono. Além disso, deixa o restante da floresta fragmentada e vulnerável a mais desmatamentos, a espécies invasoras, à exploração e aos impactos das mudanças climáticas.
Quanto mais vulnerável à mudança do clima está uma floresta, mais facilmente os estoques de carbono serão jogados na atmosfera. Isto aumenta o risco de desastrosas perdas de biodiversidade e serviços vitais do ecossistema, como água limpa e qualidade do ar.

Quanto mais os impactos das mudanças climáticas são sentidos, aumentam as preocupações de que a Amazônia possa chegar a um “ponto de inflexão”, onde
a floresta sofrerá uma transição rápida para savana. A avaliação de 2014 do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), da ONU, relatou que a probabilidade de se chegar a este ponto de inflexão foi causada por uma combinação de mudanças climáticas e um processo de fragmentação da floresta agindo concomitantemente.

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A exploração madeireira seletiva é um importante agente de degradação florestal. É bem documentado que a extração seletiva de árvores de mogno na floresta amazônica primária
foi um grande impulsionador do início do processo de fragmentação da floresta até o comércio dessa espécie ser estritamente controlado em 2003 pela CITES, o que reduziu
substancialmente a escala do problema.

A exploração madeireira de mogno também foi o primeiro passo em um processo de colonização envolvendo agricultura e queimadas. Colonos avançaram ao longo de uma estrada construída por empresas, desmatando áreas abertas pelos madeireiros e convertendo-as em lavouras e pecuária.

O assentamento agrícola ao longo de estradas leva à degradação e, finalmente, ao desaparecimento da floresta nativa restante. Mesmo que o comércio de mogno tenha sido controlado, a extração seletiva de madeira continua a ser um enorme problema na Amazônia, com consequências semelhantes. Se não for controlada, a degradação da floresta acabará por levar ao desaparecimento de áreas inteiras de floresta.

Um dos principais impulsionadores da degradação, hoje, é a demanda por espécies de alto valor, tais como o ipê.

greenamazon3Ipê – o novo mogno

O grupo de espécies conhecidas como ipê (Handroanthus spp.) tem sido considerado como o “novo mogno” por serem madeiras altamente procuradas e valorizadas no mercado, além de estarem sendo coletadas de forma muito semelhante. Uma árvore grande de ipê apresenta flores cor-de-rosa, roxas, amarelas ou brancas brilhantes em setembro – distinguindo-se do resto das outras árvores da época. É uma madeira valiosa e conhecida por sua durabilidade, força e resistência natural ao envelhecer.

O ipê cresce na Amazônia em uma área de dispersão, aparecendo, em média, uma árvore a cada dez hectares. Isto significa que grandes áreas de floresta precisam ser abertas para acessar esta espécie valiosa. Ironicamente, o ipê é sobretudo conhecido por ser uma árvore plantada em diversas cidades brasileiras.

É considerada a “espécie típica do Brasil”, e parte integrante da história indígena como a madeira usada para a fabricação de arcos e flechas. A casca do ipê também é conhecida por suas propriedades medicinais pelas indústrias farmacêuticas e pela medicina tradicional, além de ser usada como remédio para úlceras, câncer e artrite, entre outras doenças.
A madeira do ipê tem sido considerada a melhor opção para a produção de pavimentos comerciais e residenciais,frequentemente dada como uma alternativa “verde”, pois não
requer tratamento com produtos químicos tóxicos.

No mercado do “faça você mesmo” (“do it yourself”), o ipê – também conhecido como noz brasileira ou lapacho – é vendido como deques e pisos. Nos Estados Unidos, é usado por muitos píeres icônicos e calçadões em lugares como Nova Jersey, Califórnia e Nova Iorque (incluindo a Ponte do Brooklyn). Na Europa, ele tem sido usado como pavimentos em edifícios importantes, incluindo o World Trade Center em Genebra e a Biblioteca Nacional de Paris (Bibliothèque François Mitterrand). No Brasil, o ipê é encontrado em muitas cidades e recentemente foi usado como piso na Biblioteca Presidencial do Palácio do Planalto.
Mesmo deixando de lado o impacto da exploração madeireira ilegal, espécies de ipê estão em sério risco de sobre-exploração.As empresas madeireiras têm permissão para derrubarem 90% das espécies de tamanho comercial já adulto, com um segundo corte permitida após 35 anos. No entanto, estima-se que, depois de uma derrubada inicial de 90% das espécies, levaria pelo menos 60 anos para uma única espécie (Handroanthus impetiginosus) recuperar os volumes comerciais nos níveis da pré-colheita.

O ipê é hoje a madeira tropical brasileira mais valiosa, e está entre as mais caras no mundo. Enquanto os volumes de ipê colhidos e exportados diminuíram nos últimos anos, o preço continua a aumentar – o que tem direcionado os madeireiros cada vez mais para dentro da floresta em busca dela.

Madeira da Amazônia

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Sob pressão de grupos de interesse, o governo brasileiro recentemente afrouxou as regras para o desmatamento e limitou a capacidade das agências ambientais federais de
aplicar essas regras. Por conseguinte, as taxas anuais de desmatamento na Amazônia brasileira, que haviam caído nos últimos anos, aumentaram 28% entre agosto de 2012 e julho de 2013.

Os Estados com o maior aumento de desmatamento por área, Mato Grosso e Pará, também são os que apresentam os mais altos níveis de exploração madeireira ilegal. O Pará é o maior exportador de madeira da Amazônia brasileira, e estima-se que 78% dessa exploração madeireira (por área) seja ilegal. Análise semelhante ocorreu no Mato Grosso, o segundo maior produtor e exportador de madeira, que mostra que 54% da área total registrada foi explorada ilegalmente.

Esta prática madeireira ilegal ocorre por falta de governança em áreas públicas, terras indígenas e outras áreas protegidas; falta de capacidade de controle e execução pelas autoridades locais; alta demanda por madeira, incluindo espécies de alto valor; compensação ilegal de madeira ilegal; uso indevido de inventários dos planos de manejo florestal e a “lavagem” da madeira ilegal através de documentos autênticos – nomeadamente através da criação de créditos virtuais de manejo florestal aprovados, mas de planos florestais não controlados.

O sistema de controle do setor de madeira brasileira na Amazônia é fraco e facilmente explorável. Estudos têm demonstrado grandes discrepâncias entre as áreas autorizadas e aquelas efetivamente exploradas. O sistema de licenciamento e controle dos planos de gestão florestal oficiais em âmbito nacional é estruturalmente falho, levando ao crime sistêmico no setor de registro.

Grandes quantidades de madeira ilegal entram em mercados nacionais e internacionais de madeira após serem lavadas, apesar do uso de “documentos oficiais”. Os madeireiros
são capazes de fabricar documentos de autorização legal para lavar madeira ilegalmente.

De acordo com o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), a agência ambiental federal responsável pelo monitoramento, fiscalização e controle das atividades florestais, somente nos Estados do Maranhão e Pará, quase 500 mil m³ de madeira serrada apresentaram documentos fraudulentos em 2013 – o suficiente para carregar 14 mil caminhões.

Dada a magnitude da fraude e corrupção, não há dúvida alguma que documentos administrativos emitidos no Brasil para certificação da legalidade da madeira são totalmente ineficientes e não podem ser considerados como evidência de legalidade.

Fonte: Uol Notícias

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