A inquietude criativa de David Byrne

A inquietude criativa de David Byrne

A música, as cidades e a modernidade na visão do músico escocês que, vinte e três anos
após o fim do Talking Heads, não impõe barreiras para a criação artística
Amanda Massuela
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David Byrne não para. Aos sessenta e dois anos, o ex-frontman da banda nova-iorquina Talking Heads acumula projetos que vão da música à literatura, passam pelo cinema e se expandem para quantas áreas do conhecimento lhe for permitido. Nas últimas décadas, a partir do final dos anos 1980, Byrne recebeu um Oscar pela trilha sonora de O último imperador, de Bernardo Bertolucci; dirigiu um documentário sobre a influência do Candomblé nas artes brasileiras, fundou uma gravadora, lançou nove livros – o mais recente, Como funciona a música (Manole, 2014) foi lançado em maio no Brasil – e se tornou uma voz mundialmente reconhecida em defesa do uso da bicicleta e de formas mais sustentáveis de vida nas cidades ao redor do mundo. A lista se estende e reflete o vigor criativo de um artista que não descarta nenhum tipo de possibilidade. A pergunta que fica, diante de tamanha vitalidade, é: o que David Byrne não poderia fazer?

Aparentemente, o que não está entre os planos do músico escocês é louvar a internet como uma ferramenta salvadora da modernidade. Ao menos, não no que diz respeito aos interesses de quem vive de arte. Byrne deixou clara a sua opinião ao publicar um artigo no jornal inglês The Guardian, em outubro de 2013, afirmando que “a internet irá sugar todo o conteúdo criativo do mundo”. Sua crítica se direcionava especialmente aos serviços de streaming de música, plataformas que permitem ao usuário acessar um catálogo de milhares de álbuns mediante uma pequena quantia mensal. Segundo ele, esse tipo de serviço gera lucro para as gravadoras e conteúdo livre para os fãs, mas, para os próprios músicos, não provoca nada além do “desastre”. “A internet afetou a música antes de afetar muitas outras áreas”, diz Byrne à reportagem da CULT, alertando que, em breve, todas as áreas criativas serão impactadas por ela. Talvez de uma maneira não exatamente positiva.

Numa época anterior à internet, como faz questão de frisar, ele entrou em contato com a música brasileira ao ouvir o disco Estudando o samba (1976), de Tom Zé. “Eu fazia parte de uma geração inesperada para se descobrir a música brasileira. Eu era classificado como um punk rocker. Quem iria imaginar que um roqueiro se apaixonaria por ela?”, questiona. Pela Luaka Bop, selo que idealizou em 1989, Byrne introduziu a música brasileira na América do Norte com a coletânea Brazil Classics 1: Beleza Tropical – o primeiro lançamento da Luaka. “Hoje, uma nova geração no norte descobriu a Tropicália e eu suspeito que eles também comecem a ouvir artistas mais novos”, prevê o artista, que há pouco escreveu uma música em parceria com a cantora brasileira Tiê: “Ela é parte dessa nova geração de artistas brasileiros que são bastante internacionais”.

Em entrevista à CULT, David Byrne fala sobre os processos de criação artística, sua história com a música brasileira e as relações conflituosas entre arte e internet.

CULT: No livro Como funciona a música, lançado recentemente no Brasil, fica claro que a sua relação com a música transcende esta arte e se estende para a arquitetura, biologia, filosofia e muitas outras áreas. Há semelhanças entre os processos criativos nesses diferentes campos do conhecimento?

DAVID BYRNE: Bom, eu não sou arquiteto nem biólogo, mas, pelo que ouvi e li, o processo criativo é muito parecido entre as disciplinas. Você estabelece uma tarefa para si mesmo (ou recebe uma bolsa para uma pesquisa científica) com algumas restrições e parâmetros, e então você tenta resolver a charada. Definitivamente, não é um processo que necessite de espera por inspiração. Alguém disse que você já deve estar em ação quando a inspiração chega – você precisa ter um lápis na mão, ou uma guitarra preparada. E, se não estiver ativo, o pássaro da inspiração pode até aparecer, mas você irá esquecer o que fazer com ele. Mesmo que a inspiração não venha, acredito que seja importante continuar trabalhando – alguns dos resultados serão ruins, mas sempre se pode jogar estes fora, e, quando boas coisas aparecerem, você está pronto para isso.

Você disse algumas vezes que “nós não fazemos música, a música nos faz”. Como esta percepção afeta seu processo criativo numa composição?

O que quis dizer foi que, a partir do momento em que se começa a fazer música, as emoções se esvaem para fora de nós – a música simplesmente não descreve as emoções, nós as vivemos (ou revivemos). Claro, o compositor passou por uma emoção que se inseriu no trabalho, mas, para que este seja bem sucedido, ele deve reconstituir com sucesso estas emoções em quem o escuta. É a música que faz isso, são vários elementos que se alinham, e não o compositor. Sim, o compositor escreveu a música, mas ter um sentimento, como raiva ou tristeza, no momento em que se está escrevendo ou compondo não é o bastante. Nas ruas, as pessoas têm raiva, tristeza – e assistir a uma briga, por exemplo, não é algo que evoque estes mesmos sentimentos no observador. Quando se observa algo a distância – como observadores, vemos alguém passar por uma emoção –, não se sente isso, de fato. Mas, com a música, o sentimento é recriado em nós por meio de nossas próprias experiências.

Você tem a Síndrome de Asperger, uma forma de autismo que tem sido considerada a “doença dos gênios”. Ao mesmo tempo, você afirma que a música não é um mito romântico reservada a um gênio solitário. Esse rótulo te incomoda?

Eu reconheci alguns dos sintomas da Síndrome de Asperger em mim quando li sobre ela alguns anos atrás, mas a maioria deles desapareceu com o tempo, como acontece quando a síndrome é suave. Acho que escrever e me apresentar (especialmente me apresentar) foi uma espécie de terapia, também. Oliver Sacks [biólogo, neurologista e escritor anglo-americano] e outros notaram que a música é uma espécie de terapia que beira a magia, pois toca muitas partes do cérebro. Mas a visão de cultura do gênio solitário relega a produção de música e todo o resto a “experts” que são “iluminados”. Nessa visão, um número pequeno de pessoas produz cultura e ciência, enquanto o resto de nós está relegado ao posto de meros consumidores. É uma segmentação muito capitalista da cultura. Dessa forma, a cultura e a criação são tiradas da maioria das pessoas, que podem experimentar a cultura, mas são desencorajadas a participar dela, o que eu acho um tanto triste. Todos têm alguma criatividade. Talvez nem todos possam escrever canções, mas há um milhão de maneiras pelas quais as pessoas podem se expressar, elas não precisam deixar tudo nas mãos dos “profissionais”. Eu não me vejo como um daqueles gênios, mas sim como alguém que trabalha duro e que aprendeu algumas habilidades com o passar do tempo. Isso me faz profissional num certo sentido, mas não é apenas um dom bizarro que simplesmente me deram. Eu, de fato, acredito que às vezes pessoas criativas podem estar no lugar certo na hora certa… Ou apenas terem sorte… Ou elas apenas seguem tentando e estão lá quando a inspiração chega. E às vezes as pessoas têm insights ou criam coisas que parecem surgir completamente do nada – mas eu suspeito que não, pois nada cai do céu. Há muitos fatores externos envolvidos. Parte do que eu queria escrever em Como funciona a música era de que forma os muitos contextos financeiros, acústicos, sociais e tecnológicos moldam a música. Ela não surge do nada.

Você tem uma relação longínqua com o Brasil. Em julho, São Paulo aprovou um novo Plano Diretor, uma série de leis que devem guiar o desenvolvimento da cidade pelos próximos dezesseis anos. Elas estabelecem, dentre outros pontos, a criação de uma ampla ciclovia e fundos para a construção de parques. Enquanto cicloativista envolvido com a causa da mobilidade urbana, qual é a importância de iniciativas como essa, que vislumbram uma cidade feita para pessoas, e não para carros ou imobiliárias?

A razão pelas quais essas coisas importam é porque elas contribuem para uma vida mais agradável. Ao menos que você seja feliz adiando a maior parte do seu divertimento para a outra vida (e ao menos de que você esteja muito certo do lugar para onde vai!), então talvez seja uma boa ideia dar alguma prioridade à diversão enquanto você está aqui na Terra. Talvez os paulistanos amem ficar presos no trânsito e passar horas para ir de um lugar para o outro, mas eu duvido. Estou muito curioso para ver como as propostas de mudança podem funcionar. Eu já andei de bicicleta por São Paulo e, tirando alguns bairros que eram muito bonitos, não é nada fácil. Mas coisas surpreendentes podem acontecer. Pessoas e lugares podem mudar. Às vezes é difícil imaginar um lugar se tornando diferente, mas pode acontecer. Curitiba foi uma inspiração para cidades em todo o mundo, assim como Bogotá e algumas outras. E as mudanças nem sempre configuram gastos altíssimos. Enrique Peñalosa [urbanista e ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia] descobriu que adicionar ciclovias e faixas de ônibus de alta velocidade ajudam a cidade imensamente, além de terem sido medidas muito mais baratas e menos danosas que a rodovia proposta anteriormente. Então talvez até São Paulo possa dar alguns passos para se tornar um lugar mais agradável para se viver.

Que tipo de efeitos essas transformações urbanas podem causar, não apenas na produção musical de uma cidade, mas em sua concepção de arte?

Bem, essa manhã eu fui de bicicleta até o médico (apenas um check-up, estou ótimo) e, no caminho para casa, passei por um museu de design e me lembrei que havia uma mostra que queria ver. Então, parei alguns minutos e dei uma olhada. Se eu estivesse num carro eu provavelmente não teria feito isso – estacionar é impossível em Nova York. Então, mais próximo de casa, eu vi um vendedor de tacos de peixe, então parei a minha bicicleta e comi alguns. Novamente, se eu estivesse num carro eu jamais faria isso. Claro, São Paulo é uma cidade bastante ampla, mas para viagens locais talvez seja possível se deslocar sem um carro.

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Foi durante uma turnê brasileira, inclusive, nos anos 1980, que você ouviu o disco Estudando o samba, do Tom Zé, pela primeira vez. Mais tarde, você lançaria uma coletânea chamada The Best of Tom Zé, o primeiro disco de música brasileira a ficar entre os mais importantes da década nos Estados Unidos. Quais foram as suas primeiras sensações ao ouvir essas músicas e por que você decidiu lançar o trabalho do Tom Zé fora do Brasil?

Lembre-se, não havia internet a essa altura! Então, quando eu recebi o vinil do Tom Zé em casa, fiquei agradavelmente surpreso. Eu gostei muito do disco e imediatamente percebi aquela experimentação radical e com tom de brincadeira, junto à inovação intelectual que estava acontecendo em todo o lugar, e muito fortemente no Brasil, mas a que a América do Norte não tinha acesso. Eu tive que perguntar “quem é esse cara? De onde ele vem? Ele é popular?”. Abri os olhos alegremente quando coloquei pela primeira vez aquele disco no meu tocador – era isso que eu queria que as pessoas experimentassem. A resistência ao disco, é claro, veio do Brasil. Eu recebi perguntas de brasileiros: “por que você está lançando este cara? Temos tantos bons artistas no Brasil, por que não eles? Por que ele?” O que eu poderia dizer? Sim, há tantos outros maravilhosos artistas e compositores no Brasil – e muitos norte-americanos ainda não os conhecem. Mas eu queria mostrar o alcance da criatividade no Brasil a pessoas que ainda, naquele tempo, conheciam somente a Bossa Nova. Eu obtive reações semelhantes quando fui perguntado por brasileiros de que artista do Brasil eu gostava: é claro que eu mencionei os artistas da MPB, mas também falei de Zeca Pagodinho e Jackson do Pandeiro, e eu percebi que algumas pessoas consideravam estes artistas como de baixa categoria. Eu acho que essa atitude mudou desde aquele tempo… Principalmente devido à geração mais jovem de fãs de música no Brasil.

Dentre os primeiros lançamentos da Luaka Bop, nos anos 1980, havia quatro coletâneas de clássicos brasileiros e, com o passar do tempo, você continuou lançando diversos artistas daqui. O que mais te atrai na música e na cultura brasileira?

Para mim, a primeira compilação de MPB era a visão de uma utopia da música pop – um lugar em que trabalhos inovadores e às vezes radicais também poderiam ser populares. Pessoas comuns no Brasil amavam essas músicas e esses artistas, e eles não eram considerados parte de uma elite de gosto refinado. Ainda assim, a música era inovadora e sofisticada. Essa era a proposta incorporada à primeira coletânea que lançamos. Além disso, eu mesmo tive minha própria realização pessoal instigada por essas músicas. Eu me dei conta de que músicas radicais, políticas e inovadoras não precisam ser feias. Na América do Norte e em boa parte da Europa nós duvidamos da beleza. Nós achamos que, se algo é belo, provavelmente também será superficial e meramente agradável. Então, os inovadores aqui no norte tendem a fazer música abrasiva, que afasta os ouvintes. Mas com a música brasileira eu percebi que beleza e profundidade não são mutuamente exclusivas. Os norte-americanos ainda podem ter esse preconceito, mas eu estava encontrando uma saída, ao menos para mim mesmo.

A Luaka Bop é conhecida por seus lançamentos experimentais de músicas da África, Cuba e do Brasil. O selo pode ser considerado uma expressão da sua vontade de mostrar novas músicas ao mundo, que correm fora do mainstream?

Parte do propósito do selo tem sido misturar artistas nacionais e estrangeiros, porque realmente não há muita diferença. Um segundo propósito tem sido não tratar artistas estrangeiros como se sua música fosse algo exótico. Nós sempre sentimos que música de todos os cantos deveria ser tratada da mesma forma que a música produzida aqui. Isso parece óbvio, mas nós sabemos que nem sempre acontece dessa forma. Mas principalmente, nós queríamos apresentar música estrangeira de uma forma não acadêmica – por décadas os discos de fora da América eram tratados como um objeto de estudo antropológico, e não algo que você toca numa festa. Bem, sou feliz em dizer que muito disso está mudando.

Desde o fim do Talking Heads e a criação da Luaka Bop, a internet transformou completamente a indústria da música. Você poderia traçar um paralelo entre essas duas épocas?

Sim, a internet afetou a música antes de afetar muitas outras áreas, talvez porque muitos dos fãs de música são nerds. Para eles, a ideia de ouvir música num computador era natural. Mas a música foi só o princípio e logo todas as áreas criativas serão afetadas. Há aspectos positivos, pois muitas músicas estão disponíveis para serem ouvidas imediatamente, além de o acesso ser muito mais fácil e rápido.

Num artigo publicado no The Guardian, no final de 2013, você afirmou que “a internet irá sugar todo o conteúdo criativo do mundo”. A internet realmente está matando a criatividade das pessoas?

Não está matando a criatividade, mas está tornando mais difícil que pessoas criativas possam viver do seu trabalho. A renda das vendas digitais e especialmente dos serviços de streaming é minúscula. Não me parece sustentável, ao menos não para as pessoas que criam as coisas. Não há renda suficiente para pagar pelas gravações, mesmo que esteja mais barato produzir música hoje, e nem mesmo para os músicos viverem. E se você não consegue viver como músico, jornalista, escritor, compositor ou cineasta, irá desistir eventualmente e procurar outras formas de alimentar a sua família. Eu também me pergunto se a internet pode um dia se tornar segura – Edward Snowden acredita que, por meio da criptografia, podemos torná-la muito mais segura do que é – mas eu me pergunto se a sua própria natureza é favorável à segurança. Acabou de ser revelado que a Agência de Segurança Nacional (NSA) desativou a internet na Síria em 2012, o que significa que eles podem fazer o mesmo em qualquer lugar. Entre eles e as grandes corporações e hackers que sugam todas as nossas informações, a coisa toda me dá arrepios – apesar de eu usar essas tecnologias ainda assim.

Thom Yorke, Beck e outros músicos se uniram a você nas críticas aos serviços de streaming de música como Pandora, Spotify e Rdio. Eles não trazem nada de positivo à indústria da música?

Para o consumidor, pode ser positivo. Mas o Napster e o Limewire [programas de compartilhamento e download de arquivos do início dos anos 2000] também eram – para o consumidor, de qualquer forma. Bom, estou chamando-os de consumidores, mas, na maioria das vezes, eles não pagam nada. Fazer com que a cultura e o conteúdo sejam mais baratos é, de fato, uma ação muito popular entre os consumidores – e também entre os chefões digitais, que são, na verdade, quem ganha dinheiro a partir desses serviços. Mas, da mesma maneira com que a China produz todo o tipo de bens baratos, os benefícios têm um preço. As pessoas que costumavam produzir essas coisas localmente perderam seus empregos. As cidades em que viviam são fantasmas. A longo prazo, o mais barato nem sempre é a melhor opção.

A internet é uma realidade do nosso tempo. Não é possível torná-la uma plataforma rentável para artistas – sejam músicas, escritores, cineastas – que precisam viver do seu trabalho?

A ideia de que escritores não precisam ser pagos pela sua obra, de que músicos devem ceder o seu trabalho de graça (sem serem consultados), e outras atitudes similares, precisa mudar. Há muito papo furado no mundo digital, como a ideia de que toda ruptura é boa ou que tudo deveria ser gratuito e a tecnologia irá resolver todos os nossos problemas. Temos engolido muito dessa tolice. As pessoas estão ganhando muito dinheiro com o mundo digital, sim, mas os que estão lucrando são mediadores que, na verdade, não estão envolvidos com o trabalho artístico ou que não produzem nada. Banqueiros também não produzem nada. Mas eu sinto que essas atitudes em relação à internet e os mediadores irão mudar em breve. As pessoas estão ficando cheias de toda essa propaganda digital e deixaram de acreditar nisso de forma automática.

Você consegue enxergar um futuro em que a arte, em geral, e a internet possam conviver de forma positiva para ambas?

Eu gostaria de acreditar que pode acontecer, mas a minha imaginação ainda não me mostrou como.

Em julho você publicou no seu site uma carta aberta do músico Brian Eno a respeito dos conflitos na Faixa de Gaza. Este é um tema que te perturba?

A carta de Brian era apenas para os seus amigos, mas eu achei importante que os norte-americanos soubessem qual foi a sua reação a esses eventos. O noticiário nos Estados Unidos é tão parcial neste assunto, que eu senti que alguns dos meus leitores ficariam surpresos com o fato de que nem todo mundo pensa da mesma forma que a mídia e o governo. A reação foi rápida e massiva – tivemos em torno de quarenta mil acessos num dia. E havia muitos comentários, alguns bem intencionados, e outros reverberavam a usual estupidez da internet, de ambos os lados. Desde que eu moro em Nova York, também acho importante discursar contra a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos. Organizei um grupo de colegas artistas e nós ocupamos um anúncio de página inteira no New York Times sugerindo que uma invasão planejada não era resposta para nada. Eu tenho problemas com relação ao Obama atualmente, mas ao menos como senador ele votou contra a invasão. Essa invasão e a anterior, no Afeganistão, destruíram a economia norte-americana (trilhões gastos numa guerra que não resultou em nada) e também provocou um enorme efeito na economia mundial. Politicamente, no mundo, foi um desastre – alguém pensa que o Estado Islâmico do Iraque e do Levante [ISIS, na sigla em inglês] existiria se não fosse pela invasão liderada pelos Estados Unidos? E quanto à reputação dos Estados Unidos – um país que pessoas de todo o mundo costumavam admirar, apesar do apoio a diversos ditadores –, bem, qualquer respeito que restava se foi. Eu vivo aqui, então, apesar dos muitos outros assuntos que me preocupam, este é perpetuado pelo governo do país e m que vivo, logo, eu não posso sentar e agir como se não notasse.

Você é um homem de muitos projetos. Existe algo que ainda não tenha feito?

Eu tenho o bastante para me manter ocupado por enquanto

Trad. Amanda Massuela e Patrícia Homsi

Fonte:Revista Cult

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