Harold Bloom: Não existe leitor passivo

 Harold Bloom: ” Não existe leitor passivo.”

Harold Bloom

Harold Bloom

Aos 83 anos, com saúde frágil, Harold Bloom, crítico literário, segue lecionando na Universidade de Yale (EUA).

Seus cursos sobre Shakespeare e literatura norte-americana só aceitam 12 alunos cada, posto que suas aulas às vezes são transferidas para a sua casa, principalmente no inverno.

Publicada em 1973, “A Angústia da Influência” de Harold Bloom transformou o estudo das reverberações de um artista em outro: A influência é amor literário, aquilo que ao mesmo tempo afasta e aproxima autores fortes uns dos outros.

Bloom, em “A anatomia da Influência” (2013), define influência como “amor literário temperado pela defesa”. Afirma que quando escreveu “ A Angústia da Influência”, havia a crença universal de que toda influência poética era um processo benigno. Por isso era necessário enfatizar o negativo, o que foi mal compreendido.

“Este livro é bem diferente. É uma suma pessoal feita em uma idade em que a gente sabe que pode morrer a qualquer hora, mas ainda tem tempo de resumir para si o que acredita ser a sua contribuição.”

Para ele “amor literário” é como estar apaixonado.

O escritor tem um curso de seis aulas sobre “Rei Lear”. Para ele, “Lear é o maior representante em toda a literatura ocidental da autoridade paterna, que a maioria das sociedades confere às figuras do rei e de Deus. A melhor coisa dita na peça sobre Lear é que ‘ele sempre se conheceu muito pouco’. Não há autoconhecimento, e esse é um erro que os críticos que o idealizam cometem.”

Para Bloom, a relação da leitura com as tecnologias visuais é difícil. Ele diz que tem dificuldades de se desligar do visual. Nada disso existia quando era jovem. Segundo ele, o computador usurpou o lugar do cinema e da TV.

Ele encoraja estudantes a lerem em voz alta, a irem a lugares onde possam ficar sozinhos e ler em voz alta.

Para ele, ler de verdade, ler Shakespeare , ou Wordsworth, ou Wallace Stevens, ou Hart Crane, algum escritor difícil, é um processo extremamente ativo em que se luta com todas as suas dificuldades, mesmo se não puder compreender tudo, para tirar mais daquilo.

Com o visual, mesmo que exista algo como olhar de forma reativa, não sendo ele guiado pelo visual, sendo apenas verbal, com o visual é muito mais fácil relaxar e ser passivo. Não se pode ser passivo ao ler.

O crítico literário diz-se desapontado com Barack Obama por ele ter ampliado o programa de vigilância dos EUA.

Bloom diz que não liga para as provocações que recebe de resistentes formalistas, de especialistas em grupos marginalizados e dos combatentes políticos do seu foco no combate entre autores. Se ligasse, seria incapaz de ler, escrever ou ensinar.
“É bobagem acreditar que você pode beneficiar grupos insultados, explorados ou desfavorecidos lendo e ensinando a ler obras menores por causa da pigmentação da pele, orientação sexual ou origem étnica” ensina Bloom.

Ele vê os departamentos de língua e leitura inglesa esvaziados em comparação a 30 anos atrás.

Fonte: Folha de São Paulo

 

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