Conheça histórias de profissionais de tecnologia autodidatas que alcançaram o sucesso mesmo sem ter um canudo embaixo do braço e descubra os prós e os contras de aprender sozinho na área de TI
Nenhum diploma, mas talento e experiência de sobra. Esta é a receita de sucesso de profissionais de TI autodidatas, que, mesmo sem nenhuma preparação formal, conseguem ter seu valor reconhecido no mercado de trabalho.
Via de regra, os autodidatas são aqueles que começaram a estudar tecnologia por hobby, movidos pelo que chamam de “paixão por computadores”. Esse é o caso do Analista de Segurança André Fucs, que está há cinco anos na área de TI. Fucs já trabalhou na Módulo Security Solutions, e hoje atua em um banco, que prefere não revelar.
– Comecei a lidar com tecnologia quando tinha nove anos. Minha mãe me colocou numa escolinha de informática, que basicamente foi o único curso que fiz na área de TI. Foi aí que tomei gosto pela área e me apaixonei por computadores. Mais tarde comecei a acessar BBSs, e fui me apaixonando ainda mais. Aprendi tudo o que sei hoje metendo a mão na massa. Informática se aprende mexendo – acredita Fucs.
Além de “meter a mão na massa”, Fucs admite que também aprendeu bastante convivendo com pessoas que sabiam mais do que ele. Para o Analista de Segurança, a troca de experiências no dia-a-dia de trabalho é mais importante do que dedicar horas à leitura de livros.
– Bons livros te levam a pensar sobre o assunto. Outros livros apenas te ensinam a reproduzir o que está escrito. Por isso a troca de experiências às vezes é mais proveitosa que uma leitura – opina.
A troca de experiências também é valorizada por outro profissional autodidata, um Programador, que preferiu não se identificar. Ele atua profissionalmente na área de TI desde 1994, mas começou a programar por hobby, aos 14 anos.
– Eu virava noites fazendo jogos com gráficos, sons e uma pretensiosa inteligência artificial básica no meu potente Commodore 64, que era uma máquina bem avançada para a época dos PCs fósforo verde. Sempre gostei muito de programar, me divertia mesmo – recorda.
Adeus, Cinema
O Programador anônimo tornou-se autodidata devido à crise provocada pelo governo Collor na produção cinematográfica brasileira. Naquela época, ele fazia faculdade de Cinema, e, as perspectivas não eram boas para jovens cineastas.
– Como já tinha alguma experiência acabei no mundo de TI, principalmente porque tudo ainda estava começando, inclusive as faculdades. Fiz um ótimo curso técnico de programação para me dar mais embasamento e fui à luta. Não havia mais tempo para ir à faculdade naquela fase da minha vida – lembra.
Para complementar o curso técnico de programação, o profissional anônimo lia, praticava e fazia muitos contatos. Mas ele admite que nem todo mundo tem talento para ser autodidata.
– O importante é manter contatos, trocar idéias, participar de projetos coletivos. Também é preciso ter muita disciplina para aprender como autodidata. Se é mais fácil ou mais difícil, acho que depende da pessoa. Algumas pessoas conseguem aprender sozinhas, outras não – constata.
Mão na massa
O analista de Suporte da Petrobras, Alexandre Boechat, é uma dessas pessoas com talento de sobra para aprender sozinha. Na área de TI há oito anos, e na Petrobras desde 1999, Boechat aprendeu Informática como a maioria de seus companheiros autodidatas: praticando.
– Ganhei um computador e comecei a futucar, mexer, descobrir como funcionava. Passei a entender da coisa e arrumei trabalho por fora, um emprego aqui, outro ali. Aprendi sozinho, fui adquirindo conhecimento com a experiência – conta.
Sem nenhuma formação acadêmica na área de Informática, o analista de Suporte da Petrobrás comprou muitos livros e fez alguns cursos da Microsoft, mas ele reconhece que estuda pouco.
– Leio muito sobre o que preciso saber no momento, mas não estudo de forma global, apenas com foco no que vou usar. Eu me preocupo em fazer uma atualização periódica, e leio em média 20 artigos diferentes por semana. Assim, consigo executar tudo de que a empresa precisa – garante Boechat.
O analista de Sistemas Álvaro Almeida é mais um bom exemplo de profissional de TI adepto do autodidatismo. Sócio-gerente da Droid Informática, Almeida atua na área de Tecnologia desde 1987, quando se descobriu apaixonado pela Informática e com talento para programar.
– Pouco tempo depois que comecei a trabalhar com Informática, encontrei o código-fonte de um programa feito em Dbase e resolvi executar algumas linhas para ver o que aconteceria. Fiz um programinha simples em dois dias e quando mostrei para um programador que trabalhava comigo, ele não acreditou que eu tivesse aprendido em tão pouco tempo. Depois disso achei que levava jeito para trabalhar com desenvolvimento, comprei livros e comecei a estudar linguagens de programação – explica Almeida.
Segundo o Analista de Sistemas, seu processo de aprendizado independente foi bem rápido. Como gostava muito de programar, ficava horas na frente do micro, mesmo depois do expediente – e sem ganhar hora-extra. Um ano depois resolveu sair da empresa em que trabalhava e tornou-se autônomo.
– Fiquei uns sete meses inventando e desenvolvendo programas sem muita utilidade, mas que me trouxeram uma boa experiência. Na mesma época, criei várias rotinas para usar em meus programas, e que, algum tempo depois, foram utilizadas num livro escrito por mim, lançado em 1993 – recorda.
Na Web
O prazer de trabalhar com tecnologia que motivou Almeida foi o mesmo que levou Nelson Corrêa, hoje gerente de Soluções da Módulo Security Solutions em São Paulo, a transformar seu hobby em fonte de renda. Corrêa começou a aprender Informática com o surgimento dos primeiros computadores pessoais, há pouco mais de vinte anos, e o que era lazer virou sua atividade-fim.
– Eu trabalhava com aviação, tive uma empresa nesse segmento, informatizei a empresa, mas sempre como hobby. Comecei a brincar com isso, sempre aprendendo sozinho. Foi paixão mesmo. Quando comecei a atuar como profissional, há cinco anos, comprei uma boa quantidade de livros e busquei também muita informação na Internet – revela.
Corrêa garante que cerca de 85% de seu conhecimento foi adquirido na Web, e recomenda a Internet como fonte de informação para outros autodidatas na área de TI. Mas Corrêa reconhece que não é tão fácil encontrar informações na Rede.
– Estudar na Internet é trabalho de garimpeiro. Às vezes você fica três, quatro horas buscando alguma coisa e não acha nada. Hoje já tenho fontes certas para buscar o tipo de informação que preciso com uma velocidade maior. Depois de cinco anos é claro que você acaba achando o caminho das pedras – revela.
Há controvérsias
Mesmo sem ter um canudo embaixo do braço, os autodidatas admitem que um diploma tem seu valor no mercado de tecnologia. Mas o Programador anônimo ressalta que nem sempre um diploma é sinônimo de experiência.
– Eu considero o diploma universitário importante, assim como uma certificação, mas não acho que sejam essenciais. Acho essencial o conhecimento e a experiência. Como você vai adquiri-los é outra história – argumenta.
O gerente de Soluções da Módulo concorda. Para Nelson Corrêa, o diploma não é essencial na área de TI por conta de características da própria profissão.
– Um advogado formado há 20 anos mantém cerca de 80% do conhecimento que adquiriu na faculdade. Um profissional de Informática só mantém 10% porque a área de TI é muito veloz. Nem sempre as universidades conseguem acompanhar este ritmo e acabam oferecendo informações ultrapassadas. Por isso, muitas vezes as pessoas saem da universidade defasadas, e em algum momento vão ter que incorporar o espírito autodidata para sobreviver – aposta.
Certificado de qualidade
E se Nelson Corrêa não vê tanta importância no diploma universitário, ele pensa diferente quanto a certificações profissionais. Corrêa é um Certified Information Systems Security Professional (CISSP), e garante que se preparou sozinho para as provas.
– Só existem 15 pessoas com o certificado CISSP na América do Sul. É uma prova difícil, realizada nos EUA, com 250 questões e seis horas de duração. Fiz o exame porque achei que estudando para o teste estaria ganhando conhecimento na minha área. Mas estudei sozinho para a prova, não fiz nenhum tipo de curso – frisa.
Já o Analista de Segurança André Fucs não vê as certificações com tanto entusiasmo:
– A certificação é uma prova, e eu acho que é possível se preparar para uma prova sem entender realmente do assunto que será cobrado no exame. Não tenho uma certificação sequer e sei tudo o que preciso para trabalhar como profissional. Tenho o conhecimento prático, e acho que muitas certificações só testam o conhecimento teórico – ataca Fucs.
E para Fucs a formação universitária é importante apenas porque ela permite que o profissional construa uma rede de contatos, o que é muito útil no mercado de trabalho.
– Tenho um certo receio de fazer faculdade. O cara graduado se acha melhor que você, e às vezes não é. Acho a faculdade importante não pelo que ela te ensina, mas pelos contatos que você tem com pessoas que vão ocupar cargos importantes no mercado, pela troca de idéias e de experiências. Essas foram coisas que eu não tive – lamenta.
Em busca de um lugar ao sol
Mas será que ter um diploma debaixo do braço não faz falta no momento de procurar uma vaga no mercado de trabalho? A resposta é: depende.
– Infelizmente, muitas empresas dão mais valor ao diploma do que ao conhecimento. A vantagem de possuir uma formação reconhecida pelo mercado é trabalhar nessas empresas. Mas isso não quer dizer que conseguir um espaço no mercado seja uma missão impossível. Se o profissional for realmente bom, e a empresa tiver uma visão moderna, a colocação é garantida – afirma o Analista de Sistemas Álvaro Almeida.
Na opinião do Programador que não quis se identificar, atualmente conseguir emprego não é problema para nenhum profissional de TI, devido à carência do mercado. Mas ele alerta que isso pode mudar, e aí o diploma poderá fazer a diferença.
– Com um diploma você tem metade da porta aberta. É mais fácil o empregador confiar em você num primeiro momento. Mas para abrir a outra metade o que vale mesmo é o conhecimento, a experiência, enfim, a competência profissional – pondera o Programador.
O gerente de Soluções da Módulo concorda que o mercado ainda vê os autodidatas com uma certa restrição, e que as empresas colocam o diploma como uma primeira chave para abrir a porta de um emprego. Mas Corrêa aposta que isso vai mudar.
– Eu acho que os meus netos não vão mais vivenciar esse tipo de comportamento do mercado. O modelo de ensino vai mudar, hoje em dia existe uma maior disponibilidade de informação, e a coisa formal do diploma conquistado ao longo de um ensino formatado deve acabar, ainda que demore um pouco – acredita Corrêa.
Para o analista de Segurança André Fucs, o diploma faz diferença quando o profissional tenta conseguir emprego sem ajuda do tradicional Q.I.
– A dificuldade depende de como se consegue emprego. Eu consigo por contatos, e nesse caso é indiferente ter diploma ou não. Mas se tiver que submeter currículo, aí é indispensável possuir uma formação. Tem muita gente que me diz que se não me conhecesse não me contrataria. O diploma tem mesmo um peso diferente para o mercado – reconhece Fucs.
Alexandre Boechat, da Petrobras, também acredita que autodidatas levam desvantagem na hora de procurar um emprego. E ele exemplifica esta dificuldade citando seu próprio caso.
– Acho que não conseguiria uma vaga numa empresa de Informática. Essas empresas exigem uma graduação e prezam muito as certificações, coisas que eu não tenho. Na própria Petrobras eu acabo esbarrando em problemas. Recentemente mudei de uma unidade da Petrobras para outra, e sei que não teria vindo, ou teria vindo com um salário mais baixo, se não tivesse vindo por indicação – analisa Boechat.
Dinheiro no bolso
A remuneração é outra questão delicada quando o assunto é contratação de autodidatas. De acordo com o analista de Sistemas Álvaro Almeida, existem muitos autodidatas no mercado ganhando bem mais do que profissionais com formação universitária. Para Nelson Corrêa, da Módulo, é difícil estabelecer parâmetros salariais no mercado de TI.
– Na área de TI existe um pessoal muito bem remunerado que nem começou a faculdade. Eu acho fantástico que o mercado de TI tenha quebrado essa equiparação entre salário e quantidade de anos trabalhados. Eu tenho 42 anos, e lembro que quando eu tinha 19 o profissional podia ser bom, mas só ganhava um salário melhor quando mostrasse o diploma de término da faculdade. O mercado de TI bagunçou com isso, não existe mais essa relação. Acho isso extremamente saudável – conclui Corrêa.
Fonte: http://www.pgticefetdiv.xpg.com.br/artigos/ti%20sem%20diploma.html
É isso aí Veterano!!! Bjs.