Oberdan Cattani, um símbolo do Palmeiras
Felipe de Queiroz
Por mais de meio século, Oberdan Cattani foi um símbolo do Palmeiras; nos anos 40 e 50, quando exibia o auge de sua juventude, era o homem por debaixo das metas do gol palestrino e palmeirense (um dos poucos a atuar no clube sob as alcunhas de Palestra e Palmeiras).
Oberdan foi um grande goleiro, mas – mais que isso – foi um palmeirense histórico. Viveu dias de glórias, mas remoeu por anos uma mágoa com o clube que não deixou de amar. Achava que merecia um busto em sua homenagem feito pelo clube. A honraria, a maior concedida pela Sociedade Esportiva Palmeiras, até hoje foi outorgada apenas a três jogadores: Junqueira, Waldemar Fiúme (companheiros de Oberdan) e Ademir da Guia.
O goleiro atuou por Palestra e Palmeiras, por 14 temporadas e só saiu do clube em 1954, por contas de desavenças com o presidente da época, Paschoal Giuliano, um desafeto que carregaria pela vida e cujo nome Oberdan morreu se negando a pronunciar.
Oberdan teve seu direito ao busto negado por conta de uma suposta cláusula do estatuto do clube que exigiria que só jogadores que nunca tivessem jogado contra o Palmeiras poderiam ser homenageados. Por conta do tal estatuto, Oberdan nunca pôde receber a glória que merecia. Atuou pelo Juventus em 1955 e acabou enfrentando seu querido Palmeiras naquele mesmo ano.
A tal cláusula, porém, não existia. Era uma dessas lendas urbanas que acometem o mundo do futebol. Um resquício do futebol romântico e semiamador, do qual Oberdan é símbolo. Um resquício de amadorismo, porém, que lhe fez muito mal.
Descoberto que não havia a dita impossibilidade homenageá-lo, o Palmeiras decidiu “imortalizar” em vida seu ídolo histórico. O busto era para ser inaugurado no dia 12 de junho de 2014, mas foi adiado, por conta da estreia do Brasil na Copa do Mundo, para a última quinta-feira, 19 de junho.
Por problemas de saúde, o ex-goleiro não pôde receber. Foi internado, morreu um dia depois e não viu o busto pelo qual esperou 60 anos. Oberdan esperou quase a vida toda para ser imortalizado pelo Palmeiras. Não deu tempo.
Oberdan Cattani foi o maior Palmeirense de seu tempo. O tempo, porém, fez dele um ícone mais discreto. Deixou os campos, mas nunca abandonou o clube. Vivia nos arredores do estádio palmeirense, na Rua Desembargador do Vale, a alguns metros da Avenida Pompeia.
Frequentou religiosamente o clube, por oito décadas, dia após dia, até morrer na última sexta-feira. Foi palmeirense do começo ao fim. Pode ter morrido injustiçado, mas nunca foi e não será esquecido.
Fonte: ESPN