Palestinos encontram fezes e mensagens de intolerância na volta para casa

Palestinos encontram fezes e mensagens de intolerância na volta para casa

Gaza

Quase um mês depois do início da ofensiva militar de Israel na faixa de Gaza, palestinos que tiveram de deixar suas casas às pressas começam a retornar para o que delas restou e, mais grave ainda, para encontrar o que foi deixado pelos invasores nas paredes de seus lares.

Um desses palestinos é Ahmed Owedat, 52. Dezoito dias após ter deixado para trás seus pertences em busca de um abrigo mais seguro, ao ser expulso de dentro da própria casa pelo Exército de Israel, no meio da noite, ele descobriu que os soldados danificaram seu televisor, geladeira e computadores, atirando-os pelas janelas, além de destruir sua mobília, segundo contou à reportagem do jornal britânico “The Guardian”.

Owedat voltou para um lugar fedorento e depredado, e mais: cheio de mensagens carregadas de intolerância e ódio.

Os israelenses haviam deixado ali, sobre os azulejos do chão e dentro de cestos de papéis, pilhas de fezes e uma garrafa com xixi em seu interior.

As palavras “Foda-se o Hamas” foram entalhadas em uma das paredes de concreto, assim como “Queime Gaza abaixo” e “Árabe bom = Árabe morto” na mesa de café. Um dos quartos tinha uma estrela de Davi (símbolo do judaísmo) desenhada em azul na parede.

“Eu esfreguei o chão três vezes hoje e três vezes ontem”, disse Owedat enquanto revirava o entulho.

“Não tenho dinheiro para consertar isso”, afirmou, lembrando que suas economias sumiram após a presença dos militares.

Paredes externas foram esburacadas e as da sala de estar tinham diagramas, como um mapa, nesse lar a três quilômetros da fronteira entre Gaza e Israel, transformado em pardieiro.

“Todas as casas entre aqui e lá foram destruídas.”

Integrante de uma família de 13 pessoas, Owedat e seu clã fugiram de casa quando perceberam a aproximação de tanques e tropas israelenses na madrugada do dia 20 de julho. Eles tentaram retornar durante as breves tréguas entre Israel e o Hamas, nas semanas seguintes, mas eram sempre ordenados pelos soldados israelenses a ficarem longe dali.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, em inglês) não responderam ao pedido de um comentário pela reportagem.

A meia hora de carro da casa de Owedat, uma escola para meninas em Beit Hanoun foi deixada em condições semelhantes pelo IDF: vidro e detritos espalhados pelas escadas e pelo chão; mesas e cadeiras cobertas de sujeira, como restos de alimentos estragando e vasilhames de comida, latas de bebidas energéticas, invólucros de munição…

De acordo com o que relatou o zelador da escola, que não quis ser identificado, as salas de aula tinham os seguintes dizeres a giz, em inglês, nas lousas: “Vocês serão fodidos aqui” e “Não se esqueçam que é hora de vocês morrerem”, além de cocô dentro de latas de lixo e sobre caixas de papelão.

Como se não bastasse, militantes do Hamas rebateram com mais pichações, assim que os israelenses saíram da escola: “O Exército de Qassam [braço do Hamas] vai esmagar vocês, cachorros” e “Israel será derrotado”.

O zelador acredita que o trabalho de limpeza precisará de um mês para ser finalizado, não antes de as 1.250 alunas voltarem para as atividades na escola.

Fonte: Uol Noticias

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