As influências de B.B. King foram estabelecidas há muito tempo. Por ser de Indianola, Mississippi, ele se lembra do som dos lavradores e das figuras primordiais do blues, como Charley Patton e Robert Johnson. O fraseamento de uma nota só de T-Bone Walker era outra coisa. Dá para ouvir essas influências na escolha de melodias que ele canta não só na parte vocal, mas em como deixa sua guitarra cantar instrumentalmente. Ele toca em explosões encurtadas, com riqueza e solidez. E há uma destreza técnica, um fraseamento tocado de maneira limpa. Eram solos sofisticados. É tão identificável, tão claro que poderia ser escrito. B.B. é um solista legítimo. Ele faz duas coisas que fiquei desesperado para aprender. Criou um fraseado onde toca duas notas ao mesmo tempo, depois pula para a outra corda e desliza até uma nota. Consigo fazer isso dormindo agora. E há essa coisa de duas ou três notas na qual ele faz um bend na última nota. Esses dois truques sempre fazem você se mexer na cadeira – ou se levantar dela. É poderoso assim. Houve um momento de virada, mais ou menos na época de Live at the Regal [de 1965], quando seu som assumiu uma personalidade que hoje é intocável – este timbre arredondado, no qual o captador de cima e o de baixo estão fora de fase. E B.B. ainda toca com um amplificador Gibson que não é produzido há muito tempo. Seu som vem dessa combinação. É simplesmente B.B. (Billy Gibbons)
Jeff Beck tem a combinação de técnica brilhante e personalidade. É como se dissesse: “Sou Jeff Beck. Estou bem aqui, e você não pode me ignorar”. Até no Yardbirds, ele tinha um timbre que era melódico, brilhante, urgente e ousado, mas doce ao mesmo tempo. Dava para perceber o quanto ele era sério e determinado. Há uma arte real em tocar com e em torno de um vocalista, respondendo e o pressionando. Essa é a beleza dos dois discos que ele gravou com Rod Stewart, Truth, de 1968, e Beck-Ola, de 1969. Ampliou os limites do blues. “Beck’s Bolero”, em Truth, não é blueseira, mas mesmo assim é inspirada no blues. Uma das minhas faixas preferidas é a cover de “I Ain’t Superstitious”, de Howlin’ Wolf, em Truth. Há um senso de humor – aquele wah-wah grunhido. Não sei se Clapton toca com o mesmo senso de humor, mesmo sendo tão bom. Jeff definitivamente tem isso. Quando passou pela fase do fusion, a cover de “ ’Cause We’ve Ended as Lovers”, do Stevie Wonder, em Blow by Blow, me conquistou. O timbre era tão puro e delicado. É como se houvesse um vocalista cantando, mas havia um guitarrista fazendo todas as notas. Eu o vi no ano passado em um cassino em São Diego, e a guitarra era a voz. Você não sentia falta do vocalista, porque a guitarra era muito lírica. Havia uma espiritualidade e uma confiança nele, um compromisso com ser ótimo. Depois de ver aquele show, fui para casa e comecei a praticar. Talvez tenha sido o que aprendi com ele: se você quer ser Jeff Beck, faça a lição de casa. (Mike Campbell)
Fontes: Rolling Stone e Youtube